ATO I
O COMEÇO
Pessoas aqui,
presentes
As graças deste lugar
Peço cá que cá escutem
A história que vou
contar
Pois não vem de tão
distante
É um recado do lunar.
E sentindo, a
transmutar
vôo unindo os
elementos
grito à água, vem a
chuva
tempestade, vem o
vento
cai na terra, nasce a
planta
pau que cresce, o fogo
invento
Tendo cada um elemento
a este enrredo evocado
nossa verdade é
completa
entre a coragem e o atado
pois enquanto estou
tecendo
me aproximo do sagrado
É a metafora do nado
de um peixe umbilical
criatura que broteja
ramando do milharal
herdado o sangue da
terra
nessa trasmissão natal
Corpo de carne vital
é matéria, um
instrumento
capaz de apreender
diante da coisa
invento
a essência limiar
numa brincancia de
vento
A pouco e a passo
lento
entre frestas de
outras portas
nasce a gente e logo
crescem
fome alimentando as
hortas
das sementes que
brotejam
e que pareciam mortas
Com a verdade que
corta
sai da urna o rico
bredo
milagreando a nascente
e o sol que acorda
cedo
da flora que vem tocar
com as luzes de seus
dedos.
cresceu um grande
arvoredo
junto das gentes
cresceu
mas as gentes não
sabiam
de onde tudo nasceu
somente desconfiavam
que cada qual era um
eu.
Fazia dias que o breu
Tinha invadido o céu
Encontrou sua morada
Nessa imensidão cruel
E se amigou de uma
nuvem
Que sempre lhe dava
mel
O escuro se subiu
E a poeira assentou
A gente não tinha asa
e da terra não voou
e foi um grande
mistério
Que a escuridão
carregou
Nesse tempo todo escuro
O urubu quem mandava
Chefe de todas as aves
Que lá de cima avistava
As gente daqui de
baixo
Em quem elas defecavam
Ato II
O MAU AGOURO
Boa noite dou ao povo
e ajuda eu peço ao
vento
pra falar do
sentimento
que cabe dentro do ovo
não é sentimento novo
é coisa velha e antiga
também cabe em cada
grão
da amarela espiga
é coisa que me intriga
e que aqui peço e
louvo
que a memória me siga
e me ajude enquanto
trovo
O tal fato ouvi de um
corvo
que cantou, agouro mal
Ele voava em contraste
com o sol do milharal
e partilhava o
mistério
da inteireza dual.
A cinza, o mel, o
cristal
o sopro das criaturas
a essência das
escrituras
e o caminho do tao
ninguém mais sabia
igual
só esse corvo sabia
a tudo ele conhecia
consciente do real
mas nesse quadro atual
não há real que se
sendo
que mesmo que
escondido
não acabe aparecendo
Cabeça negra mexendo
Em silêncio gorgeou
E o dia branco de sol
Logo em seguida geou
E o branco que era
gelo
Com o tempo degelou.
Conhecia, o corvo,
mitos
De antepassadas
culturas
Os mistérios infinitos
Almanaques e misturas
e partilhava dos ritos
das medicinas seguras
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