quarta-feira, junho 01, 2022

da genese - incompleto

ATO I

 

O COMEÇO

 

Pessoas aqui, presentes

As graças deste lugar

Peço cá que cá escutem

A história que vou contar

Pois não vem de tão distante

É um recado do lunar.

 

E sentindo, a transmutar

vôo unindo os elementos

grito à água, vem a chuva

tempestade, vem o vento

cai na terra, nasce a planta

pau que cresce, o fogo invento

 

Tendo cada um elemento

a este enrredo evocado

nossa verdade é completa

entre a coragem e o atado

pois enquanto estou tecendo

me aproximo do sagrado

 

É a metafora do nado

de um peixe umbilical

criatura que broteja

ramando do milharal

herdado o sangue da terra

nessa trasmissão natal

 

Corpo de carne vital

é matéria, um instrumento

capaz de apreender

diante da coisa invento

a essência limiar

numa brincancia de vento

 

A pouco e a passo lento

entre frestas de outras portas

nasce a gente e logo crescem

fome alimentando as hortas

das sementes que brotejam

e que pareciam mortas

 

Com a verdade que corta

sai da urna o rico bredo

milagreando a nascente

e o sol que acorda cedo

da flora que vem tocar

com as luzes de seus dedos.

 

cresceu um grande arvoredo

junto das gentes cresceu

mas as gentes não sabiam

de onde tudo nasceu

somente desconfiavam

que cada qual era um eu.

 

Fazia dias que o breu

Tinha invadido o céu

Encontrou sua morada

Nessa imensidão cruel

E se amigou de uma nuvem

Que sempre lhe dava mel

 

O escuro se subiu

E a poeira assentou

A gente não tinha asa

e da terra não voou

e foi um grande mistério

Que a escuridão carregou

 

 Nesse tempo todo escuro

O urubu quem mandava

Chefe de todas as aves

Que lá de cima avistava

As gente daqui de baixo

Em quem elas defecavam

 

 

Ato II

 

O MAU AGOURO

 

Boa noite dou ao povo

e ajuda eu peço ao vento

pra falar do sentimento

que cabe dentro do ovo

 

não é sentimento novo

é coisa velha e antiga

também cabe em cada grão

da amarela espiga

 

é coisa que me intriga

e que aqui peço e louvo

que a memória me siga

e me ajude enquanto trovo

 

O tal fato ouvi de um corvo

que cantou, agouro mal

Ele voava em contraste

com o sol do milharal

e partilhava o mistério

da inteireza dual.

 

A cinza, o mel, o cristal

o sopro das criaturas

a essência das escrituras

e o caminho do tao

 

ninguém mais sabia igual

só esse corvo sabia

a tudo ele conhecia

consciente do real

 

mas nesse quadro atual

não há real que se sendo

que mesmo que escondido

não acabe aparecendo

 

Cabeça negra mexendo

Em silêncio gorgeou

E o dia branco de sol

Logo em seguida geou

E o branco que era gelo

Com o tempo degelou.

 

Conhecia, o corvo, mitos

De antepassadas culturas

Os mistérios infinitos

Almanaques e misturas

e partilhava dos ritos

das medicinas seguras

 

 


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