quinta-feira, fevereiro 21, 2019

Omar

Omar desceu girando do cosmo
Se esparramou entre as frutas da Ceasa
Com as marés nos olhos nos espumou como as bebidas curtidas
Sábio de antigos desertos
De certo um imã, um irmão
No nome o som da criação criança, da graça
Os lábios do doce das tâmaras místicas alucinadas do Saara
Canção de oásis seu peito
Solto entre as palmeiras que abanam o tempo
Pés nas alpargatas, nas areias, nas estrelas, nos passos, nos Caminhos, no claustro, nos abismos, na amplitude, no vôo

Gemido arabesco de pássaro

Omar retorna conosco, somos gratos
Honrados com a sua majestade simples
Dou-te o veludo do meu leite e colo trigueiro
Te aninha em mim, ave santa
És, junto á Esmeralda, o tesouro antigo
Que entre mistérios minou
Gemas sementes tomadas pelo sopro
Dois milagres

terça-feira, fevereiro 05, 2019

Casa

Faltam as palavras
no espelho distante
Cintila a louça do frágil
Cavalga a força solta
com a cria pelo mato
Na busca de chão
os ladrilhos resistentes e belos
Existe um elo apagado
Um pulso ancorado
Um grito embotado
Na minha casa brotou uma mata
Os espíritos de ferrão defendem a ruína
Por toda parte há estilhaço
Como se a casa estivesse nas entranhas
me habita uma borboleta de madeira com cheiro de chuva
Ouço dentro o som da panela que ampara essa goteira antiga
Ouço a louça frágil
Como uma guerra que findou
sem socorro
Com os olhos secos
A vista traga mormaço
O vento cisca as telhas
Esfrego as janelas
Casa assim é palavra difícil

Mata

Na minha casa cresceu uma mata
Enxames guardiões e aves
Venho pra essa casa
Mergulho sua essência
No quarto das armas Omar dorme
Busco me desarmar
Bosque de abundância
Medro entrar