terça-feira, julho 19, 2005

não sei se medo

naquele dia ela acordou cêdo de durmir tarde
sentia algo, não sei se medo
tiraram-lhe oitocentas ou setecentas gotas de sangue
de sua veia sem nome, de seu braço esquerdo.
ela ainda, pra ser educada,
tentou fingir que não houvera nada
e até sorriu por alguns segundos
mas não segurou- se ao segundo seguinte
e tombou no chão sem mais ter requinte
naquele instante, revirou os olhos e tencionou a carne
fugindo aos sentidos. não tinha charme.
setiria algo?
suada... e sem mente, do leve desmaio forte,
levantou-se, a gente, e na sua sorte

havia o proximo, próximo, tronco humano para acolhe-la
e ela de olhos abertos do coração que já se sente
bate em samba enredo...
e depois de tudo, falou calado
tonto de segredo...

poema pra quando caio

pra que se deixe claro
esse poema é egoísta...
e só inporta por assim dizer,
o que nele há de humano e solidário a mim...
e só, pra mim, importa
porque pra mim, agora, São Paulo importa mais...
pois depois que caio, e choro, quando a vista desmbaça...
consigo ver melhor;
no ato cotidiano de olhar o outro
e nesse enxergar salgado ser mais feliz com os gostos doces,
os sabores doces sutís.
e perceber a alegria de comer conjunto doce em demasía.
como ritual.
ter menos culpa e mais calma
assim... depois de passados os momentos de inferioridade
depois da paixão o amor.
pois um dia faz valer... acrescenta um ano.

agenda

hoje penso diferente de dez dias atrás
hoje tenho dez dias à mais...
já não concordo mais
com aqueles versos que escrevi
mas não os apago, trago a lição
daquela ocasião
e aplico nesta
e se a vida me contesta
mais dez dias penso que virão
não os espero...
os sinto e sobretudo vivo
comendo pão... e rabiscando agenda.

teu santo nome

eu não vou citar teu nome
pra não te ver vaidosa
pois não pagas minha glosa
e eu não vou morrer de fome
parente de alcapone
és vilã nesse cinema
que não te reste um poema
vai embora, sai de perto
o portão está aberto
não te quero como tema.

FLOEMA

(à minha irmanzinha maria clara ferreira galvão).

a flor da minha vida
é monocotiledônea
cheia de amido seu
tem cheirinho de comida
essa flor que deus me deu
me abraça me faz carinho
e ainda fala baixinho
enchendo os ouvidos meus

a flor que me acorda cedo
adora pão integral
e seu gostinho salgado
é da manteiga de gado
que tem um pouco de sal

minininha flor do meu fado
vem correndo tal qual um rio
flô do bra...zil ... flô do abaca...xi

tua raíz espalhada
é uma sínha de renda
e as palavrinhas erradas
servem pra mim de merenda

minha florzinha do vaso
minha amiguinha meu caso
minha florzinha de cores
qu'inda há de crescer muito
com seus vasos condutores.
*Anaíra Mahin -São Paulo, 2004

segunda-feira, julho 18, 2005

canto mudo

Teu desprezo repartia o inteiro
Eu em reza pedia teu cheiro
Tu distante me olhava e ria
Eu em tom de te sentir mais perto
Não enxergava teu peito aberto
Louco pensar que inda me atraía.

Mas, alimento essa situação,
Reengolindo o coração da mão
Sendo meu pão essa paixão macia
Que mesmo perto estando distante
Ainda espero que esse samba cante
E mate a coisa que nos distancia.

Amor perdoa a imaturidade,
É que eu sinto tanta da saudade
Que até me calo, fico com vergonha,
E remoendo esse canto mudo
Penso que tu devias ouvir tudo
E se ganhando, mais a gente ganha.

versos assim

Quero dizer-te mais puro
A minha viva verdade
Que submersa em saudade
Vem sufocada na dor
Talvez se eu soubesse a cor
Dessa dor que gosto dela
Trabalhasse com aquarela
Sem querer ser escritor.

Mas como não sei ao certo
Se vens fechado ou aberto
Eu guardo dentro de mim
Um sentimento incolor
E pensando ser amor
Escrevo versos assim.

colo

Se olho até sinto o gosto
Das expressões do teu rosto
Quando estou perto de ti
E sinto cada detalhe
De tua alma o entalhe
No mistério que sorri.

Eu sinto que a calma tua
Tal qual a calma da rua
Devem pender no meu colo
Com a poesia brejeira
As cinzas de quarta-feira
Como as raízes do solo.

das coisas

Hoje ainda, antes de um sono inquieto,
Interroguei as nuvens do presente terno
Que externas pareciam entender o interno
Abrindo aos olhos, em alvo céu de teto.

fomos cruzes subindo o despertar da ladeira
Cruzando-se em carinhos; inversões de inverno.
Num céu que anda aos pés do pai eterno
Pena, sem chaves de uma usina de caldeiras.

E saímos, sem cruzamento fixo, na dobra da esquina,
Postos às diferenças restantes, menino-menina.
Nosso andar foi repartido, cada-cada, ruas tortas.

E os botões de cada casa descosendo um a um
Naquele dia que escancarava a larga boca de jejum
E retraia a madrugada, abrindo as portas.

fábula

Ontem vi dois passarinhos
Bem-te-vi e beija flor
Um cantando, outro beijando
Falando a língua do amor

Um sobrevoava a rosa
O outro na bananeira
Com sua voz mais formosa
Cantava a manhã inteira

Quando o beija-flor ouviu
A cantiga tão suave
Dizendo-lhe: bem-te-vi
Foi voando feito uma nave

Saiu numa pressa tão grande
Mais foi triste o seu caminho
(que do jeito que ele ia)
Seu bico tornou-se flecha
No peito do passarinho

E ao sentir o que fizera
Beija-flor enlouquecido
Na manhã de primavera
Bem-te-vi tinha morrido

E se m ver mais solução
Pra sua tamanha dor
Adeitou-se no seu ninho
E morreu do mal de amor.

algarobas

Meu amigo onde está teu sangue azul
Santa cruz te ilude a alva pele
O que manchas talvez também te mele
Não me ofenda ofendendo o pajeú
É mais belo dizer: tome no cu
Como um sábio ditado em chinês
Sendo a planta a respiração da tez
Quem destrói não é muito inteligente
Cai um pé de algaroba inocente
Sobre os pés da brutal estupidez.

Essa planta parente de bombril
Pois que tem mil e uma ultilidades
Vem comendo o pão que amassou hades
Alcançou essa terra de estiu
Africana trazida pru brasil
Que agora já fala matutez
Faz lembrar a revolta dos malês
Que ouvi duma negra resistente
Cai um pé de algaroba inocente
Sobre os pés da brutal estupidez.

Cai um pé de algaroba inocente
E eu volto a questão da realeza
Recordando uma história de tristeza
E trazendo a lição para o presente
Uma história passada no oriente
Que falava espanhol cum portuquês
Coroaram já tarde a bela Inês
Mas que hoje se encontrem novas porta
Que não mais caia essa sombra morta
Sob os pés da brutal estupidez.

Nessa terra de angico e baraúna
De juá, barriguda e mulungú
Vem o homem que arranca e deixa nu
Caatinga pra ver se vira duna
Rogo, peço pra são bento do una
Pois são zé abalou-se de repente
Não enxerga um palmo a sua frente
E o dinheiro é que elege novos reis
Sobre os pés da brutal estupidez
Mais um pé de algaroba inocente.

Vem as leis naturais, o tsuname
E as leis imorais, desmatamentos
Enfrentar a força dos elementos
Faz o homem passar muito vexame
Ele próprio cultiva seu desmame
Mata mãe e irmãos, faz suas leis
Não percebe tamanha insensatez
E às vezes até se diz um crente
Cai um pé de algaroba inocente
Sobre os pés da brutal estupidez.