quarta-feira, setembro 26, 2007

carta avante


caro,

deixei os teus agrados no mar, que a maré, quando encher, os devora.
e assim, eles vão embora, e assim deles não sinto saudade de dor no peito.
abrevio que não te chateis, porque foi o jeito que achei de lidar com tão linda presença
que sela e cavalga no rumo oposto.
dessa maneira, pela lindeza que ao azul entrego, e que em ti está incutida,
saudo tua ida,

voôs bem livres!

carinhosamente,

a. mahin.

segunda-feira, setembro 24, 2007

plenitude lacaniana


sentires apegados

as conciências me acordam com umas não palavras

era a lígua que falam os bebés...

que falam as plantas, os desenhos talvez falem outra língua parecida...

ainda espero q esse samba cante


teu despreso repartia o inteiro

eu em reza pedia teu cheiro

tu distante me olhava e ria

eu em tom de te sentir mais perto

não enxergava o teu peito aberto

triste pensar que inda me atraía


mas alimento essa situação

reengolindo o coração da mão

sendo meu pão essa paixão macia

que mesmo perto estando tão distante

ainda espero que esse samba cante

e mate a coisa que nos distancia


amor perdoa a imaturaidade

é que eu sinto tanta da saudade

que até me calo, fico com vergonha

e remoeendo esse canto mudo

penso que tu devias ouvir tudo

e se ganhando mais a gente ganha.

quarta-feira, março 14, 2007

Quando Recife

Quando recife era criança
eu era talvez futuro
e a rua do futuro, talvez fosse algum brejinho
de indiozinho se alumbrando com a arquitetura natural
de pau nativo terra e molhado
dos ventos e inventos do além mar
Na vazante de uma rua do sol
a nado de nau e vela e a negro
uma rua nova
que mesmo que sobre urucum e fogo
trouxe progresso
rua nova nascendo
e eu nem novinha era ainda
Oh, linda
já mãe marim de Recife
de pernão Buco quebrava o mar
nascia em cima de morto, comércio porto.
instalavam-se ruas da moeda, da palma...
suada, revertidas moedas abstratas
da força e dos bens da terra
ai meu bom jesus, traz um caminho de mais sossego
ao menos uma rua, de sossego, de união
-e pediram e veio
E outro dia Recife se verticalizando alado
até quando?- perguntou o chão
e a rua do hospício nasceu no reverso
fazendo juízo no verso

na pauta


ai cristinho, qué queu faço com esse menino
me diz minha nossa senhora da conceição
seu coração é muito e seu olhar tão fino
que chega a agoniar meu vão.

ai meu rio são francisco
qué queu faço comigo
com esse meu umbigo
com esse meu apego
que as vezes aparece tanto cisco na vista
e esse rio querendo desaguar forte
mas tendo que ter tanto dedo.

ai que sorte bifurcada
alada e tão dada demais
de dois baços sem ter canto.

tem hora até,
queu me dou conta do exagero
e te desabraço e olho de lado
meio alto.

tenho na pauta
que devo trabalhar a tua falta.

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

malabares

jantares
malabares
que voan
pelos ares
bem longe
dos altares
dos santos
que choram
sangue
de gentes
que não têm lares
nem jantares

recife, 2001.