segunda-feira, março 30, 2009

sonhos

Noite sem seres humanos
Estou fechada em nuvens
Meus olhos parecem ser de até logo
Os de adeus são bem mais expressivos
mas os meus só representam...

La larilala larilala larilala...

Encontrei a ponta do arco-íris
E vi um velho sorrindo
Um velho de olho cego
Vi um velho sorrindo, e sem rir...
Encontrei a ponta do arco-íris
Nos dedos do velho sem íris
Sorriam anéis doirados
Sorriam ao sol e a mim
Sorriam tal qual o velho,
Que mesmo sem dentes
Não me sorriu acanhado

(Recife, 2002).

Oração à Temperança.

Que o colorido seja unido
Seja entendido e respeitado
Que o colorido seja herói
Não tenha as mãos e os pés atados
Que tenha voz o colorido
Que seja ouvido e vá nu vento
Sendo veloz ou sendo lento
Que sábio espalhe seu sentido.

(Recife, 2002).

Pneumoboxer.

Hoje me bati um pouco
Hoje ja chorei bastante
Hoje me bati na cara
contracenando com o espelho

Contracenando com o espelho
Hoje me bati na cara
Hoje já chorei bastante
Fiquei de olho vermelho

Mas foi uma brincadeira
Uma brincadeira etérea
Cutucando a agonia
Que estava ficando séria

É que quando a gente chora
Faz careta expectora
E o pulmão fica feliz
Quando assoas o nariz.

(Recife, dezembro de 2008).

Jacaré-minininho.

Quando eu tinha dois anos
Meus pais me levavam a parques
Para passear

Ao parque da jaqueira
A praça do derby
E ao hospital Ulisses Pernambucano
Popular Tamarineira...

Eles me levavam a tantos lugares
A Mesbla e também a casas de vários amigos deles
Eu chamava de tios (-tios!)
Os amigos que eles mais gostavam
E até hoje chamo alguns
Que acho mais bonito assim.

Era bom quando eu era criança
Morando em recife
Na rua do Jeriquiti...
E achando engraçado
Ir a Pau-amarelo
Ir a praia do Janga
Ir a Maria Farinha.

Meu pai passeava comigo
Pelo centro da cidade
Eu conhecendo cantos
Por muitos lugares

Lojas de departamento, bancos, bares, mares.

Tinham lojas brasileiras
Tinhas lojas pernambucanas
E a arapuä...

Meu pai me levava
Ao banco de Pernambuco bandepe
E eu tomava chá

Meu pai me levava no bar
E eu lanchava ovo de codorna
E amendoim

Eu não achava ruim (nada ruim)
Achava tudo bom (tudo bom)

Por isso é que canto assim
Por isso é que faço esse som.

Na praça do Derby
Morava uma peixe-boi
Em um tanque sem espaço
Bem espremidinha assim
Ela ficou com escoliose
Eu também tenho escoliose
O nome dela era Francisca
O meu pai foi frade franciscano

Mas graças a são Francisco (Graças!)
Que um tal projeto peixe boi
Tirou ela de lá
E ela inda teve três filhinho
Bem gordinhos e grandoesinhos
Que mamaram muito
Mas eu só ouvi falar.

Um dia no horto de dois irmãos
Eu passava por vários bichos
E me deparei com uma cena
Muito da bonita
Eram dois jacarés
Um grande e outro pequeno
E eu disse olha mainha
Venha ver o jacaré minininho
Olha mainha o jacaré minininho

Olha mainha o jacaré-minininho
Olha mainha o jacaré-minininho
Olha mainha o jacaré-minininho
Olha mainha o jacaré-minininho

Samba de pedra

Criança de pedra de cachoeira
desagua, derrama
no cristalino véu gelado.

A paz da água que corre livre
ensina amor a pedra dura
e cura impasse...
Ampla a relação da água com o todo.

Água que o Sol chama ao vôo
que a terra trata, 
que a planta pede
que a nuvem sede
que em onda arrebata.

Pedra a água
em relação com baixas temperaturas.

Pedra, que aguarda rocha,
Que guarda flor...
Uma tocha introvertida de fogo.

Aguarda fria a luz do dia.


Recife
 22.02.2009