quinta-feira, dezembro 03, 2009

amor de índio


Morreu atropelada. Estava com um tumor no seio. Ela nunca teve filhotes. Quando eu tinha uns 8 pra 9 anos achei ela na rua de casa. Assistindo filme até tarde tentava deixar ela durmindo no banheiro, mas ela só latia e latia, aí eu a deixava dormir no meu colo na poltrona. Ela durmia R.E.M, tanto sonho e trimilique... Tinha uma linguinha pequena que foi crescendo e dentinhos de leite que foram caíndo... Ambas.

quarta-feira, novembro 25, 2009

José

José do Egito.
Jogado no poço.

José sentiu medo, Sentiu?

Cordão de umbigo, José.
Útero, ego, e umbigo e cordão.

Vendido de escravo, José,
por vossos irmãos?
Sentiu muita dor, sentiu?

José da túnica colorida...



(José tornou-se um grande psicólogo).

S

Sítio
Sintaxe
Sábado
Símbolo
Sorte
Sorvete
Sartre.


11.6.09

sábado, novembro 21, 2009

pedra

Estrela de cinco letras
(dentro infinito da terra).

Pedra pedra pedra
Uma litografia rara
Pedra rosa quartzo

Pedra pedra pedra
Litogravura que impera
Sim, cristal de rocha
Substantivo feminino

Dura pedra rima
Esculpindo palavras
Significado de pedra:
Corpo duro – sólido
Subistantivo masculino

Pedras geral
da natureza da rocha,
e que, em geral,
serve para construção.

Pedra fundamental
Carbonato de cálcio
Pedra de mão.

Pedra de ara,
pedra de altar,
pedra angular...

Quadro e gamão.

Fina gema...

Esmeril e preciosa,
pedra filosofal,
lascada, polida,
Esmeralda...

a pedra que é pão.

Mineral duro,
transparente e plácido,
claro e translúcido
– de alto valor.

Anaíra Mahin,
Recife – várzea.
19 de novembro de 2009.

quinta-feira, novembro 12, 2009

filha de leão com bode. (pra não dizer que não falei em jacarés).

eu falei, falei, até que ele respondeu. ele me pediu: "não nos deixe silênciosos"... eu nem sei mais... um porção de coisas de dizer, e fico calada pensando no modo. ai, os malditos modos. os benedictos modos. não quero mais dizer nada... dizer demais aliena. gosto de cheirar os ombros das pessoas que amo. amo e pronto. estado de graça solta. não carece tanto dito... mas pra poder cheirar, tenho que deixar claras as intenções? se não?!... ovo frito - pode ser que entre numa torre fragílima... e tenho o abestalhamento do pobrezinho do Ícaro... complexo de filho de artista. sem dar valhor `as hierarquias etárias. dizem q ele é um pato feio, e que mora longe. eu tenho lá minhas dúvidas. acho que ele até mora perto. e os patos feios são mais maneiras de ver que outra coisa. tenho pena de passarinho quando vejo ele vermelho de me olhar... sem saber o que fazer. o que dizer. ele fica constrangido mais que eu...( será?). o olho dele é claro feito olho de criança, duma pureza atrevida, e eu gosto taanto de criança... eu devia dizer isso pra ele, mas não devo ficar alimentando o que não se deve, minha vó sempre reclama que quero fazer do povo mais velho meu "pareceiro", (me sinto tão amiga da minha vó), eu concordo com ela, mas tenho que me garantir nesse feito... se não, nada feito. - Eu só posso amar quem posso morder. estabeleci - essa é a regra geral.

terça-feira, outubro 27, 2009

amora clara

Amora vermelha-preta. Doce mimo. A gente come e faz um cocô escuro, fora o colorido que fica na roupa quando a gente limpa a mão. Minha irmanzinha mais nova tem na chácara da mãe dela um pé de amora bem espalhado. Tinham galhos bem baixinhos para que ela pudesse pegar com os próprios dedinhos rombudos as frutinhas. A boquinha de passarinha ficava borrada de um tom frutal escuro naquele sol de hora do almoço. Tinta doce quente da madureza da manhã.

(Recife, setembro de 2009)

O trânsito.

Tanta coisa pendente que desprende
suspensa que surpreende
nessa segunda dos exus e de obaluaiê,
das pombas que giram, de satanás,
das ciganas tupiniquins, padílhas, pilíntras...

O ofício santo dos ante heróis.

Cheguei em casa e o copo
de vidro quebrou em minha mão.

"Era para o santo" - entende-se.

O rio... 

Diabo das matas, das vinhas,
divino, das ovelhas cabras,
dos carneiros, das cobras,
das cobranças sociais.

A mulher, a noite, o canhoto...

Parte da causa da estigmatização
dos diAbos, dos diEgos, era o medo
que as pessoas condicionadas tinham
a uma ótica estreita de 'desconhecido'.

Mas o rio que flui bifurcado feito perna
aberta, veia da terra, caminha raro...

De longe, muito longe, saltou a voz
agradecida, uma gota d'água doce,
das glândulas salivares do organismotor.

Transitando...

Fui dormir e contei carneirinhos.
Passei numa ponte...
E as estrelas do céu...
E as casinhas na beira do rio,

Uma velha de branco...

Branco o olho e o negro da noite...
Era negra a senhora.

Trabalhava em rendas de bilros,
numa luz amarela...

Negro olho e o branco da noite,
branca a concha do mar,
e o espelho do rio
branca a luz do luar.

Eu passei numa ponte.

Sonhei que estava numa rua larga
e vazia, era a rua amélia, no bairro
das graças, aparecia um menino,
um menino desses de rua, cara
de bicho com raiva, com sono
e fome, cara de sol ardente...

Me virei numa gaivota grande.

As asas queriam conte-lo em abraço
de mãe, começei, gaviota...
Gaivota ou colhereiro?
comecei a desvirar e respirar bem
fundo, acordando mar bravo
dentro. E chorei abraçada.

A essa altura o menino chorava junto,
um respiro largo tomou conta de nós dois.
Era a paz.

Voou outra ave por cima da gente
em forma de sombra, no chão
o reflexo da ave veio na poça d'água
formada do chororô. 

Tinha aparecido uma tartaruga marinha
bem pequena, e a gente quis salvá-la juntos.


(Camaragibe-Recife-Barro Macaxeira-Várzea, dia dos exus e omolus, segunda-feira dia 31 de agosto de 2009)

Oração do treze de maio.

Linda senhora a ema, 
linda senhora a siriema...
Treze araras estressadas
e um tucano solitário
Parque treze de maio

Linda senhora a ema
linda senhora a seriema
Trancadas num viveiro

Macaco prego e gente
O guarda está sentado
"Não alimente os animais"
 - Está escrito ao lado.

O pombo e a pipoca
A menininha chora
Argumentando ao pai
que não quer ir embora

O sol é frio chuvisca
É tardezinha e o céu cora
E a palmeira dança

Lindas senhoras as crianças,
Lindas crianças as senhoras...
Linda senhora a ema
Linda senhora a ema

Um homem negro e crente
Veste terno e gravata
Palestra sorridente
Gostei dele de graça

Linda senhora a ema,
E o pavão também...
A tarde entoa um canto
Paz da senhora, amém.




(Julho, Recife, 2009).

Carneiro perdido do breu imenso.

(A Exu, a Pã, a todos os sátirus. A todos os boés que conheço, aos amigos de áries e de capricórnio, a todos os cães que pastoreiam, ao Egito, e a comunhão com Dionísio que nos permite a sorte do caminhar descalço do louco, de se perder e se achar).

Menino carneiro
Menino da constelação do carneiro
Eu vou te encontrar
Onde é que eu te encontro
Carne e carneiro, menino
Verde o vermelho que eu sinto
Eu já me desfiz
E me pintei de chão e giz
Eu já me encantei
E te pintei

Que pedra preciosa
Que cor de rosa
Que choque em botão
Eletricidade
O fio condutor, a luz
A água a vontade
O vinho tinto em Jesus

Méérr... Mééér... Méér

Eu vou te contar...

Cabra e cabreiro
Menino
Sede o vermelho que é tinto
Eu já te desfiz
E te pintei de chão
Eu já te encantei
E me pintei...

Que pedra preciosa
Que cor de rosa
Que choque em botão
Eletricidade
O fio condutor a luz
A água a vontade
O vinho tinto em Jesus

Méérr... Mééér... Méér


(Recife, junho-2009).

Estrela mista

Pouco um tudo,
um carinho, uma paz....
Que espelho enxerguei
quando fixamente tentávamos olhos?
Que espécie de medo construí em mim,
minha estrela?
Me jugo, e rodo, e caio
na vida espiralada.

O mago me encontra,
no entanto, antecipo a possibilidade minimizando-a.

A escolha veio tão condicionada e tanta coisa,
(que nem foi bem uma escolha)
que eu não pude experimentar o outro lado da lua.
O lado claro.

Uma torre guarda o touro interno.
Um touro terno
que gostaria sim de ampliar o plexo
de fluir conjunto, de confluir.

Sim estrela,
me turvo...
E só, me enxergo
E só me enxergo.

Estrela outra.
Eu outra, estrela.
Minha cabeça e a tristeza
da perda.

Meu peito e a prisão do subsolo
Com potencial para a sincronia,
Mas seco e nuvem.

O nosso amor:
Grande, muito...
Tento trabalhar para exercê-lo
Com corpo almado
Com cor,
Corado.
Para dizer sentindo
O gosto cheiro.

Deixando chegar o cheiro amplo no plexo sol

Deixando entrar o gosto
Boca poro vácuo

E ser
Sentindo
E ser sentido

E dar
...sentido
sem medo de (não) ser
mãe
fuido
secreção.

medo de ser,
filho.


(Várzea, 16 de maio de 2009).

quinta-feira, outubro 15, 2009

prismando

flor púrpura da esperança orvalhada e amorosa...
benção em lua e sol de presente.
amora vermelha e raiz de cajueiro roxo...

foi a gota salgada do corpo cheio...



Anaíra Mahin
set de 2009
boa vista

como quem costura


Bárbara come ciscando no prato,
um siscado sistemático, rearrumando o feijão verde o cuscuz e o vinagrete, o coentro cozido. parece quem costura, quem borda... parece faminta. satisfeita.
prepara o garfo com a faca.


Anaíra Mahin
Vázea, 2009, outubro.

anaíra mel

italianas eram as abelhas
minha vizinhança naquele Egito de São José
as flores que ele carregava
e o bambino de colo

eu era um menino Jesus tão agraciado

os velhos da cidade me elogiavam a delicadeza à mamãe
"Quem não te conhecer que te compre"- ela dizia baixo me olhando

na porta da igreja até tarde da noite
era um sertão calmo
cantado pelas corujas.

as meninas grandes jogavam bola
eu gostava de barra-bandeira e de X- Men
e bola só playava com os meninos pequenos

eu era uma sibita...





anaíra mahin, CDU, outubro de 2009

quinta-feira, setembro 24, 2009

sábia


No meu quintal, andando no chão - grande com pernas finas - uma sabiá sem gaiola.
Voou! E a menina que gostava tanto do bichinho entendeu e sorriu.
Surgiu um sol na sua face, e ainda, um pingo de gratidão em cada fenda ocular.

(Recife, 18 de outubro de 2002).

bons exemplos de mortos vivos

A janela ficou entreaberta
Construiu-se uma relação de vidro
Uma verdade de fumaça fez trincar
Aí está, uma amizade em coma.
Como se alimenta algo nesse estado?
Com tubos? Faltou um cuidado a mais...
E agora como ela respira?
(Me preocupa mais que nunca).
Vigília constante.
Logo agora que cuidava do pé direito que pisou em falso!
Logo agora que me fortalecia, alimentando-me de nossas carências distintas.

Logo agora, que ambas as parte apareciam querendo e dando ombro.

A janela ficou abrindo sozinha com esse ventinho terno das carências...

Enquanto isso, a porta do armário do quarto escuro do inconsciente, esperava o vento chegar até ela. Ela carecia desse pretexto pra se abrir.

Armário antigo. Cansado do que guardou. Coisa mal quista, coisa confusa. Cheia de fusos fiando.
Coisa que o vento quis fechar.
Que não queria companhia assim no sol.

A janela ficou entre aberta
A lua, vez ou outra, espiava intranqüila de saber.
O vento deixou de ter dedos e ventilou mesmo
Abriu e bateu portas.
Expôs arteiro
Pro sol claro
Estrelado
Ovo-frito.


(Recife, 17.01.2009).

circulação afetiva

Circulação afetiva

A carência afetiva
A energia elétrica
A forma de bolo
O pão integral

O crime o castigo
O coco o umbigo
O carrossel

A espiga de milho
A cantiga e o filho
O embrião

O feijão de corda
A fome que engorda
A paz que me acorda
O coração

(Recife, 2009)

o matrimônio da espécie

O matrimônio da espécie.
À Aparecida Nogueira.



A crise energética
A invenção da carne de sol
A crise existencial.

O patrimônio da espécie
O matrimônio da raposa
A chuva persistente.

Todos esses, saberes e práticas,
Contemporâneos a nós.

- Akira Kurosawa e meus sonhos.

O aprender é o afeto
O apreender amplo
O corpo amplo

O ovo
O feto
O templo
O nada

Simultaneidade dos mundos...
“Cabra e cabreiro”
A física sinfônica

A comunicação
“As cabras têm nome”
O laboratório natural
Minha arte sacra.

O mito de eco
O sacrifício
O cuidado.

O animal
A troca
O perdão.

O leão de Neméia
A amêndoa doce
O veículo.

A mosca fresca
A teia branca
A viúva negra.

O sopro de Oxalá
O deus interno
Os Sufis.

Hermes de asas nos pés
Íris de luas têmperas
Os raios em Xangô.

O desfile das escolas de samba
Os sambas sem escolas.
Os sambas escolas.

O OROBORO
O poema sem fim.
O sistema aberto.


A. Mahin
27.02.2009
Várzea.

terça-feira, setembro 22, 2009

Para Pollyanna

Feito Pocahontas Pollyana é uma indiazinha elástica cor de ágata com jaboticaba
cor de breu queimado castanho caramelo ameixa
Os dentes dela são ossos bem fortes de quebrar coquinho guariroba e babaçú
de morder branco e roer osso.
Brincava as tardes alaranjadas pelas margens do Rio Opara
quando conheceu, Traíra, Dourado, tambaqui, Piaba... E outro seres da invisibilidade.
Lá, gostava de ver o mundo de cima de um juazeiro humilde e grande.
Conheceu muitas histórias de aves transeuntes, viandantes...
Histórias de trajetos longos, de outros ângulos...
e aprendeu com isso a falar outras línguas, de assobio e gargarejadas.
Tinha gosto pelo colorido que as aves completavam no céu
e nas ramagens arbóreas, as vezes pálidas, da caatinga.
Aprendeu a ler os calangos das pedras e dos garranchos,
entendendo ser de extrema importância a expériencia daqueles que furtam cor...
Um dia se enamorou de um Galo-de-campina com quem casou e adotou cachorros de rua.
Ouvi dizer, que a família dela era daquelas que fariam gosto que ela fizesse 'teatro' - e ela fez 'direito'. Assim, com essa formação para o mundo sensível,
com essa aptidão para a plenitude, é que do curso de fisíoterapia ela fez iogas
e hoje dá aulas de dança nas periferias de uma metropolezinha tropical.
É, dentro dessa dimensão amorosa, que flui salgada agüinha dos olhos,
quando vê bailarinas que aparecem salvando os filmes de gangsters,
ou a estrela acesa nos olhos do pequeno Billy Eliot, na tela, em rodopio.
E, é dessa maneira afetiva que avida dá-se em música. 


 Amoraíra Mahin, Recife, 22, set. 2009.

quinta-feira, setembro 10, 2009

água de chocalho

à Paulo Michelotto.

"carnaval-fora-do-tempo"
adoro gente que fala... água de chocallho.
água do chocalho dos olhos, marejam as azeitonas oleosas
dançando pra deus. com sono até hoje. um monte de coisas. umbanda.
eu era diácono. era a minha pregação. minha igreja. minha comunidade eclesial de base. era eu.
mas a liberdade tem que ser oleosa, tem que ter horizonte.
- A literatura oral.


Alecrim Mahin.
25.08.2009

quinta-feira, agosto 27, 2009

reescrevendo o céu



A menina é azul e cinza.

Pra baixo,
um jeans longo elástico marinho,
(riscado em linhas verticais finas demais).

Pra cima,
(como do horizonte subindo)
um moleton de mangas de capuz e ziper, (parece quentinho).

Ela escreve com nanquim,
o nanquim é da caneta que é cinza feito o agasalho.

O cabelo castanho ondula um pouco
acarinhando o pescoço quando mexe.

Ela parece o céu nublando,
mas tem uma meia lua bonita no rosto
e as sobrancelhas são como dois passarinhos voando de ponta cabeça.

O caderno que ela (ar)risca é florido e azul e celeste,
a sandália é velha,
deve saber muito dos caminhos
comunga com os pés num sexo tranquilo.

Ela, a moça,
é uma dança contida e densa,
como já disse, parece um céu, denso,
e que, em dança, goteja e estronda...

Tem força,
no infinito castanho que é ferramenta da visão,
como uma palestinazinha de granito.


(Recife, 25 de agosto de 2009)

terça-feira, agosto 11, 2009

retrato


retrato vermelho


segunda-feira, março 30, 2009

sonhos

Noite sem seres humanos
Estou fechada em nuvens
Meus olhos parecem ser de até logo
Os de adeus são bem mais expressivos
mas os meus só representam...

La larilala larilala larilala...

Encontrei a ponta do arco-íris
E vi um velho sorrindo
Um velho de olho cego
Vi um velho sorrindo, e sem rir...
Encontrei a ponta do arco-íris
Nos dedos do velho sem íris
Sorriam anéis doirados
Sorriam ao sol e a mim
Sorriam tal qual o velho,
Que mesmo sem dentes
Não me sorriu acanhado

(Recife, 2002).

Oração à Temperança.

Que o colorido seja unido
Seja entendido e respeitado
Que o colorido seja herói
Não tenha as mãos e os pés atados
Que tenha voz o colorido
Que seja ouvido e vá nu vento
Sendo veloz ou sendo lento
Que sábio espalhe seu sentido.

(Recife, 2002).

Pneumoboxer.

Hoje me bati um pouco
Hoje ja chorei bastante
Hoje me bati na cara
contracenando com o espelho

Contracenando com o espelho
Hoje me bati na cara
Hoje já chorei bastante
Fiquei de olho vermelho

Mas foi uma brincadeira
Uma brincadeira etérea
Cutucando a agonia
Que estava ficando séria

É que quando a gente chora
Faz careta expectora
E o pulmão fica feliz
Quando assoas o nariz.

(Recife, dezembro de 2008).

Jacaré-minininho.

Quando eu tinha dois anos
Meus pais me levavam a parques
Para passear

Ao parque da jaqueira
A praça do derby
E ao hospital Ulisses Pernambucano
Popular Tamarineira...

Eles me levavam a tantos lugares
A Mesbla e também a casas de vários amigos deles
Eu chamava de tios (-tios!)
Os amigos que eles mais gostavam
E até hoje chamo alguns
Que acho mais bonito assim.

Era bom quando eu era criança
Morando em recife
Na rua do Jeriquiti...
E achando engraçado
Ir a Pau-amarelo
Ir a praia do Janga
Ir a Maria Farinha.

Meu pai passeava comigo
Pelo centro da cidade
Eu conhecendo cantos
Por muitos lugares

Lojas de departamento, bancos, bares, mares.

Tinham lojas brasileiras
Tinhas lojas pernambucanas
E a arapuä...

Meu pai me levava
Ao banco de Pernambuco bandepe
E eu tomava chá

Meu pai me levava no bar
E eu lanchava ovo de codorna
E amendoim

Eu não achava ruim (nada ruim)
Achava tudo bom (tudo bom)

Por isso é que canto assim
Por isso é que faço esse som.

Na praça do Derby
Morava uma peixe-boi
Em um tanque sem espaço
Bem espremidinha assim
Ela ficou com escoliose
Eu também tenho escoliose
O nome dela era Francisca
O meu pai foi frade franciscano

Mas graças a são Francisco (Graças!)
Que um tal projeto peixe boi
Tirou ela de lá
E ela inda teve três filhinho
Bem gordinhos e grandoesinhos
Que mamaram muito
Mas eu só ouvi falar.

Um dia no horto de dois irmãos
Eu passava por vários bichos
E me deparei com uma cena
Muito da bonita
Eram dois jacarés
Um grande e outro pequeno
E eu disse olha mainha
Venha ver o jacaré minininho
Olha mainha o jacaré minininho

Olha mainha o jacaré-minininho
Olha mainha o jacaré-minininho
Olha mainha o jacaré-minininho
Olha mainha o jacaré-minininho

Samba de pedra

Criança de pedra de cachoeira
desagua, derrama
no cristalino véu gelado.

A paz da água que corre livre
ensina amor a pedra dura
e cura impasse...
Ampla a relação da água com o todo.

Água que o Sol chama ao vôo
que a terra trata, 
que a planta pede
que a nuvem sede
que em onda arrebata.

Pedra a água
em relação com baixas temperaturas.

Pedra, que aguarda rocha,
Que guarda flor...
Uma tocha introvertida de fogo.

Aguarda fria a luz do dia.


Recife
 22.02.2009

segunda-feira, janeiro 19, 2009

toda asma

sim
que tenha leveza
que amor ao contrário do que dizem
não precisa ter sofrimento
que o vento encaminhe
que amor que é amor
não fecha a janela
sim, que deixe em paz
que amor pra que viva não sufoca
há de respirar mais e mais...
sim,
tambem que compreenda
que amor que é amor compreende...
todos os pesares
todos os sofreres
todos os clichês
todas as clausuras
todas as agonias
as inquietações
todos os suicídios
toda asma
que amor pra que viva
não sufoca
há de respirar mais e mais.