segunda-feira, setembro 30, 2019

Fluxo d'água corrente

Na foz do meu peito preso

Mora um grito excluído

Silencioso estampido

Calado parece ileso

De animal indefeso

Deu-se em fera encarcerada

Sob a lua enevoada

Sonha a ancestral serpente

Fluxo d'água corrente

Correnteza em retomada


Dou um grito de terror

Sofrendo a dor de outrxs tantos

Ouço os tambores dos Bantus

Aos ancestrais dou louvor

Encontro em mim o sabor

Que havia esquecido

Do genipapo moido

Uma memória que sente

Fluxo d'água corrente 

Sob o veio ressequido


Queria encontrar alento

Um colo e um cafuné

A força de ser mulher

Novamente achar intento

Mas parece que o momento

Me Impele à solitude

Sigo o som de um alaúde

Que guia em tom diferente 

Tento ser resiliente

Achar no nada a virtude


Um rio reinventado

Passeia no meu trilhar

Círculo o mesmo lugar

Entre pedras o meu nado

Podia ser meu agrado

Lagoa sem movimento

Em cada peixe um lamento

Como se fosse pra gente

Fluxo d'água corrente

No despertar do momento