sexta-feira, novembro 23, 2012

pandora


Vi dizer que Pandora me adora
E eu adoro Pandora
Ela se anima quando eu chego
E eu sempre chego
Ela nunca hesita quando eu chamo
A gente sempre se chama
Pandora me adora
E eu adoro Pandora
Com a gente não tem caixa
Nem fachada
Com Pandora a verdade é pura
Verde que vigora
Tem tempo, o colorido da gente se apoderou
E somos espécimes raras
De arcoiris com cavalo de um chifre
Somos livres
Duas borboletas pequeninas e feiticeiras
E nos queremos
Somos flores camélias
Do odor mais incrível e singular
Mas somos comuns
Com os babadores melados de melancia
Descalças
E encantadas com as estrelas da terra
 


quinta-feira, novembro 22, 2012

Salmo à escrita.


Esdras trabalha na livraria.

Só podia. Ser livreiro.

Há tempos escrevi umas cartas a ele.
Cartas de criança,
 de cristã,
 de Cristo.

Ele escreveu umas talvez
muito belas, bem escritas, de escritor...
Mas quardou todas para si.
Cada qual num canto...
Marcando livros,
preenchendo gavetas.

Mas é esse o sentido, não?!
Não me iludo, pois muito me serve todo conteúdo.
Quando a gente escreve é pra gente mesmo.

Pra melhorar nossa alma
No caminho do cinema...
Nossa projeção.
Poder expor na galeria da esquina
As linhas cruzadas e as rimas
Das sinas felinas
das palmas das mãos.
Sem preocupação.
Na calma da paz
da pós-explosão.

Sozinho, vizinho,no caminho
na linha,na caneta, na contra mão.

Quando a gente inventa é assim
pra nossa própria venta
ficar erguida.
Na frente do vento.
Desmedida.

Quando a gente
em paz velha e cotidiana
vai chupando cana
sem preocupação.

Quando a gente escreve e manda
demanda muita coisa
da vida zelosa.
Dádiva que se joga,
que se pisca.
Quando a gente risca
tudo se (des)entende ao pé da letra, à risca.
E não era nada daquilo no fim.
Gosto ruim, é o que fica, é o que acaba ficando
quando a palavra vem assim, com um fim, querendo resposta...

Demanda muito pantim, é uma bosta...
Mas depois acaba melhorando.



2010. Várzea.

quarta-feira, novembro 14, 2012

diana

adorária...
almodovariana procura
e na beleza(redundância)
almadavazãozzzscoroada
de diacoisa que sana
longa e amarelaalmoFada
do busto de pena de marrecodebrincadeira
ela fecha os olhos e sorri a borboleta
pousa no trigo que o vento balança.

A. Mahin
recife, 28 de julho de 2007.
Da série "meus amigos", revistaZlundu)

domingo, novembro 11, 2012

minha flor



Minha flor tem grandes olhos negros castanhos tortuosos, tem o mistério e o humor bom da crisálida; dança e míngua, migra e volve... É um bichinho bonito, uma ave canela que tem bigode fino e sutis costeletas de canideo milagroso – de meu, magro redondo, dançarino jazz.

Flor formosa pelo amor nas repartições do espírito. É um mago dessas habitações aqui. Mira também; é lontra e tonto, roto golfinho e lobo do mar.

Novamente arriscou tocar meu barco.

Propuz certa âncora.

Nossos barcos surgem mais decentes, e a baleia cachalote se engraça deles. Minha flor surgiu tão mais belo, mais tinto e integro, fazendo propostas nos gestos, que aquela baleia não podia deixar de se engraçar de nós.

Suas histórias são lindas – mas acontece que a baleia é apenas uma invenção.

Não tarda e as velas vão se pondo em concavo, tremulam com os ventos dentro e os barcos movem pouquinho no entorno. Há uma elegânte dança na respiração do tempo.

As varas também tremulam, castas feito quem chora em milagre. A gente se olha como quem namora; todos percebem, a bobice é factual.

Ele chega fazendo sua imagem com os sapatos de bico e arqueando as sobrancelhas, e eu no meu corte de cabelo de homem medieval.

Flâmulas; de um lado a caveira de barbas e chapéu, e do outro a que é puramente branca.  As pobres bandeiras se entendendo unas na proa e no desterro; ressignificam nossas mortes constantes.

As gaivotas pequenas da graça reaparecem enquanto pedia pra ver e cheirar debaixo do braço dele, elas se põem no mastro com suas boas energias.

Em outros tempos não chegariamos a tanto.


Guiné da Selva
*da série peixes e ciganos.