segunda-feira, setembro 18, 2006

estradas

Eita estradas compridas
Eita estradas danadas
São as estradas da vida
Que tão seca e tão molhada.

Tem estrada bem velhinha
Que ta toda esburacada
Tem umas inté construindo
Pra ficar bem acabada
Que é pru povo ir dirigindo
E atropelando a boiada.

É um povo inconseqüente
Que constrói essas estradas
Que manda o povo simbora
Pra morar outras moradas.

Quando a seca ta danada
O povo do meu sertão
Sai com uma pressa do cão
E vai direto pras estradas
na mais certa contra mão
numa ilusão de sudeste
ô estrada ruim da peste!
ô estradas desgraçadas !
Egg


Sossegue
Entregue
pegue

Se segue
Não negue
nem apague
Pegue
sem que estrague

Não pague
Não Empregue
Não Esmague
Não Delegue

Não cague

ou até cague...
Mas regue
De forma que afague.

Se cegue
Carregue
da Cruz que se ergue

Não cegue
esfregue as janelas
sem que as tranque
sem que as pregue

Sem que segregue
E Se apague...
Que se apegue
sem que se apegue.


Recife, janeiro de 2005.
Cri-cri

Dorme Grilo, dorme... dorme
Que a cantiga dos grilos dá nem pra escutar
E a garagem lotada nem sabe dançar
Dorme hoje, cerveja custa dinheiro...
O sonho não
Mas pode custar pesadelo...
-eu num deixo não-
Sono custoso e pesado
Pode até abrir os olhos... Esse sono embriagado.
Que nem sei se vai distinguir
Dorme grilo, dorme...
Que a cantiga dos grilos dá nem pa ouvir.


Recife, 10 de julho de 2005.

poemal



Manso olho do mal,
atraente doce

Afiada língua do mal,
umidade quente

Sutilezas dedos do mal,
que faz mal a(os) poucos

Meio rouca voz do mal,
a cantar, e louco

Penitências corpo do mal,
se fazendo vinha

bafo, abafo, mocho, informal...
mal adivinha.

mal na espinha dorsal
Nas pontas dos dedos, Do-ín
Pergunto ao mal se ele é ruim
E o próprio responde; sim!

Erguendo a face um sorriso próprio

Em torno
tudo impróprio.

Pergunto ao mal se mal tem
E o tal
(tão tao)
não responde;
vem .

as coisas não são em total exatas...




As coisas não são em total exatas...

Me matas! Então saberei Se o rei esta lá
em trono de mármore espírito de luz
tem cabelos longos e olhos azuis

ou então me conduz para o outro lugar
de chamas e trevas vermelhas de dor
então eu verei, se lá o seu líder é um capataz
com rabos e chifres de bois nos curais

(Recife-21, jan. 2002)
A chama da vela pisca
A chama da vela encantada
Com sua dança ao vento
A chama da vela me chama
Faz-me viajar ao oriente
A chama da vela agora apagada
Ao acender-se a fluorescente
A chama da vela dança
Entre os dedos salivados
De uma moça impaciente.

(Recife, 17, fev.2002)
Caixote de madeira
Bem na cabeceira dos meus sonhos
Guardado á léguas de banhos
Meus sonhos empoeirados...
Meus livros empoeirados...
De cegos sentimentos raros.

Caixote de madeira
Servindo de tamborete
Não tem o prestigio das redes
Nem o conforto das camas
Feito de prego e madeira
Feito de suor e mãos

Caixote de madeira
Parece que estais ali
Cada pedaço do mundo
Sem precisar os segundos
A cada acento do dia.



Recife , maio - 2003
‘‘007, O amanhã nunca morre’’... Nasce?

Mas se ontem a rua estava cheia de gente
A fumaça arrudiou os olhares
Se ontem a rua estava cheia de carros
As pessoas da rua não tinham pés de meia
E se ontem a rua estava como hoje, com tantos mendigos,
Todos só viam suas bolsas e relógios.
E se antes os relógios serviam pra dar as horas,
Depois do roubo dão o prato de feijão
Feijão dá força ao povo,...
Mas se ontem foi nas horas que ‘‘passaram a mão’’
Não vamos andar a pé
Pois os segundos seguidos são livres e ligeiros.
Não temos passagem de ônibus
Mas já a temos na policia ...
Vamos arrombar carros, que são livres e ligeiros
Talvez um dia se chegue no amanhã.



(Recife-18/11/2002)

uma dança dramática.


Foi não ter a alma
Pra subir aos céus
Foi não crer no céu
E crescer sem mar
Foi não ter a língua
Pra cantar o grito
Foi não ter razões
Para poder chorar

Foi transpor as preces
Foi me arrepender
Foi ranger os dentes
Foi o não comer

E somente parar de cantar
Já foi um grande sintoma
Não foi a pior doença
Mas foi a mais dolorosa
Não ter amado a saudade
Comer sem cheirar a rosa


(São Paulo, 13 de janeiro-2003)

juninazinha

ESTRELAS...


Na janela, um horizonte
No horizonte, um verde
Um amarelo, um azul
E não era a bandeira não
Nem a camisa da seleção!...
Era o sertão;
cheio de vida
sem seca, sem dores
muita pamonha, canjica
milho “a bambão”
muita fogueira e muito coração
batendo feito zabumba
e um céu entupido de estrelas
Enfeitava a noite já espremida d’água.

Nós na fogueira
Brincando de fazer estrela também
Girando, girando... até apagar.

-Corre menino, que a noite é fria
Corre menino, lá vem o dia
Vai “timbora” te agasalhar.

-Pula menino, a fogueira é quente
“Sorta” menino, isso é água ardente
Tu “quéis” beber cana pra te embriagar.

ô chuva memória

Ô chuva cai de vagar
Pois saudade eu sinto
Da chuva de meu lugar
E quando lembro de lá
Da vontade de voltar.

Porque lá quando chovia
Correndo pru mei da rua
Festejar eu logo ia.
Naquelas chuvas de vento
Sibita doida no tempo
Batendo em cada portão
Pra chamar toda cambada
Beber chuva esparramada
Das janelas do sertão.

Céu bunito pra chover!
Pru meu açude sangrar
Antes que a chuva acabasse
Deus parasse de chorar,

com os labios roxos de frio
Nas bicas bocas de jacaré
Da casa paroquial
Ali do lado da usina
No tempo de eu menina
No dito berço imortal.


(Recife, 2001)