quarta-feira, junho 29, 2011

Raras

Avós e tias avós são coisas raras
Quem dirá bisavós e tatravós

Tia Ceição

Grossos, era o nome do sítio de tia Ceição e Antonio Braz velho. Meu pai me levava pra dormir lá as vezes, a gente ia de moto. Era a casa dos tios dele, ele devia achar muito bom ir lá. Tia Ceição, Conceição, era Galvão, irmã do pai de meu pai, minha tia avó. Alpendre, parede sem quadros, no máximo uma cruz crua de capim na porta pra espantar seca e tempestade. Tinha talvez uma tv antiga ou rádio perto de uma cadeira de balanço de macarrão azul, um pinguim na geladeira... não muito além disso. Tudo era enorme pro meu tamanho de gente. Amarelinhas com vermelho, eu tinha lindas botinhas de pano; carinha de menino sem muito enfeite. Correndo quieta e catando coisinhas no chão, talvez conversando com as formigas. Na noite cedo eram as estórias de trancoso que enchiam na boca de Antoin Braz velho, papai devia insistir... não sei se eu entendia a voz do velho, acho que eu tinha medo dele, a voz bruta de trovoada abafada. Alguma manhã clarinha deu de correr atrás de mim uma galinha, mãe de pintinhos lindos que eu quis pegar. Foi uma injeção de adrenalina. E doeu muito quando o dedo queimou na lindeza egípcia da lagarta de fogo.
Não muito além desse mapeado eu lembro dessa tia avó. Acho que ela devia ter cheiro de leite, de queijo de qualho.