sexta-feira, março 10, 2023

elis

Quais histórias têm um peito
Que sociedade excluí?
É que o padrão não conflui
Á beleza do meu jeito?!
Nos dizem que é imperfeito
E que somos indevidas...
Somos mulheres paridas
Que aos filhxs têm nutrido
E se o peito está caído
É que ergueu umas vidas

Não troco minhas "mochilas"
Pelos "melões" de ninguém
Cada um sabe o que tem
Quer saber? Entre na fila
E se peito em pé desfila
O que é sorvido se explode
Deseja, ama e fode
Nutre, acalenta, protege
Valente do amor que rege
Não pode não? Por que "mode"?!

Que se dane o que é "mostrável"
Exibível,  desejável...
Te agride o não-padrão?
Você evita o olhar?
Imagina o que não há
Para poder ter tesão?...
Coitado do safadão
"Sofrida a vida do crente"
Faz "linha pai", é ausente
Sábio, intelectual
Um trabalhador braçal
Posta músculos pra gente

Se a barriga é "deformada"
Feito professaste um dia
Compreenda a poesia
É por que já foi morada.
Faz que é nosso camarada
Mas acredita hororoso
Um ninho misterioso
Acalentador de um feto
Que precisou de afeto
E de um teto fabuloso

Enquanto a gente paria
Você vibrava outro peito
Nem a cicatriz direito
Deixou que ficasse fria
O verso e a poesia
Noutro endereço o confeito
E a outra escreveu com jeito
Nem indireto ou lacônico:
"Sou um eterno platônico
Penso em ti todo dia"

Enquanto isso, eu me via
Um portal que conseguiu
Plena do que se seguiu
Com um rebento no peito
Mas você não tinha jeito
Nem verso nem comoção
Faltou-nos na gestação
Não há como ser desfeito

Prosseguimos desse jeito
Mas a mágoa obstruiu
Não só o peito caiu
Com as sobrecargas no peito

Culpa de ter aceitado
Tudo o que verso em refrão
Resiliência, perdão
Bom e ruim foi abraçado
Agora o joio em qual lado?
Falta encontrar esse fim
E já não tiro por mim
Não tenho resposta pronta
Parece chegou a conta
Gatilho ficou assim

Tentar ter os pés no chão
Tentar tudo a cada passo
Não tentar, minguar compasso
Ficar de novo sem chão...
Eterna lamentação
Irmã, procura lutar
Quem aguenta escutar?
Nem amiga aguenta não
"Deixa esse caba do cão
Passa a te valorizar"

Rusgas, cicatriz no reto
Flacidez, diáse, estria...
É por que guardou a fia
"Por ter carregado um feto"
Meu amigo, fique esperto
Não seja tão imbecil
Essa tua fala hostil
Tu acha mesmo correto?!
Stalkear as meninas...
Os tesouros, as rotinas
Em um espelho incompleto

É Hipocrisia fina
Dizer o que quer dizer
Entre os macho, há de saber...
"Parceiro"- não recrimina
Quero ver dizer às minas
As asneiras que tu dizes
Venha dizer às nutrizes
O que por trás tens falado
Fica feio pro teu lado
Tu pode ser cancelado

Sabe a força feminina?
Machucou profundamente
Teu machismo indecente
Na Hipocrisia escondido
Bancando o evoluido
Doutorando, pos-doutor
Pois faça ao mundo um favor
Aprenda a honrar seu cacho
Se ligue, ô esquerdomacho
Teu discurso é um horror

Tu também saiu por baixo
Do ventre de uma mulher
Resteita mamãe, na fé..
Deixa do teu esculhacho
Contempla a nossa rotina
Se dispõe a aprender
Pra poder algo tecer


Vou sentir ódio de mim?
Vou querer me multilar?
Cortar meu corpo, rasgar?
Por que sou o que é "ruim"?
Quem decretou que é assim?
Que tem que haver padrão?
Vai te danar, canastrão
No teatro eu sou versada
E mentira deslavada
Percebo logo,  irmão

Quem disse que é assim
Que é como vc diz?
Que pra me sentir feliz
Tenho que me encaixar
Cortar e siliconar
Padronizar o meu ser
Quero o gosto de viver
Fluir e me expressar


É uma ode a magreza
Beleza plastificada
Também não ser desbundada
"Descuidada" da beleza
Se raspe, pinte, depile
Realce, cace, compile
"Traços negroides afile"
"Não pode ser desleixada"

"Feche as pernas", agora abra
Faca pra mim a dancinha
Besteira ser enganada
"Posso te dar uma calcinha?"
- igual a da Ercilinha?
" Não exponha, fique calada"
Eu vou te comer, safada
Seja a minha putinha...
Mas puta é mais 5000
"Porém vc é só minha"
É o linho e a linha
É a paz que vem na guerra
Pega tudo isso e enterra
Para não ficar sozinha...

Se permita ser xingada
E de leve enganada
Vc aprende, gatinha
Ser corna mansa é aposta
Engula a conversa bosta
E Procure andar na linha

Mas se dele a despedida?
"Vá viver a sua vida
Diz o dito popular:
Quem cuida da vida alheia
Da sua não pode cuidar.

E se o peito está caído
Já te livrou de um marido
Amém, axé,  oxalá!