quinta-feira, novembro 14, 2019
No caminho do mar tinha flor e cura
segunda-feira, setembro 30, 2019
Fluxo d'água corrente
Na foz do meu peito preso
Mora um grito excluído
Silencioso estampido
Calado parece ileso
De animal indefeso
Deu-se em fera encarcerada
Sob a lua enevoada
Sonha a ancestral serpente
Fluxo d'água corrente
Correnteza em retomada
Dou um grito de terror
Sofrendo a dor de outrxs tantos
Ouço os tambores dos Bantus
Aos ancestrais dou louvor
Encontro em mim o sabor
Que havia esquecido
Do genipapo moido
Uma memória que sente
Fluxo d'água corrente
Sob o veio ressequido
Queria encontrar alento
Em um colo ancestral
Uma força natural
Novamente achar intento
Mas parece que o momento
Me Impele à solitude
Sigo o som de um alaúde
Que guia em tom diferente
Tento ser resiliente
Achar no nada a virtude
Um rio reinventado
Passeia no meu trilhar
Círculo o mesmo lugar
Entre pedras o meu nado
Podia ser meu agrado
Lagoa sem movimento
Em cada peixe um lamento
Como se fosse pra gente
Fluxo d'água corrente
No despertar do momento
sexta-feira, agosto 09, 2019
ela
Na tarde que ela chegou
Estampiu-se ela de mim
Feito uma filha real
Uma outra a banhou
A trouxeram embrulhada
Silenciosa buscou-me
No sentido do seio
Estive acabada
Fui cortada ao meio
quinta-feira, fevereiro 21, 2019
Omar
Omar desceu girando do cosmo
Se esparramou entre as frutas da Ceasa
Com as marés nos olhos nos espumou como as bebidas curtidas
Sábio de antigos desertos
De certo um imã, um irmão
No nome o som da criação criança, da graça
Os lábios do doce das tâmaras místicas alucinadas do Saara
Canção de oásis seu peito
Solto entre as palmeiras que abanam o tempo
Pés nas alpargatas, nas areias, nas estrelas, nos passos, nos Caminhos, no claustro, nos abismos, na amplitude, no vôo
Gemido arabesco de pássaro
Omar retorna conosco, somos gratos
Honrados com a sua majestade simples
Dou-te o veludo do meu leite e colo trigueiro
Te aninha em mim, ave santa
És, junto á Esmeralda, o tesouro antigo
Que entre mistérios minou
Gemas sementes tomadas pelo sopro
Dois milagres
terça-feira, fevereiro 05, 2019
Casa
Faltam as palavras
no espelho distante
Cintila a louça do frágil
Cavalga a força solta
com a cria pelo mato
Na busca de chão
os ladrilhos resistentes e belos
Existe um elo apagado
Um pulso ancorado
Um grito embotado
Na minha casa brotou uma mata
Os espíritos de ferrão defendem a ruína
Por toda parte há estilhaço
Como se a casa estivesse nas entranhas
me habita uma borboleta de madeira com cheiro de chuva
Ouço dentro o som da panela que ampara essa goteira antiga
Ouço a louça frágil
Como uma guerra que findou
sem socorro
Com os olhos secos
A vista traga mormaço
O vento cisca as telhas
Esfrego as janelas
Casa assim é palavra difícil
Mata
Na minha casa cresceu uma mata
Enxames guardiões e aves
Venho pra essa casa
Mergulho sua essência
No quarto das armas Omar dorme
Busco me desarmar
Bosque de abundância
Medro entrar