terça-feira, outubro 27, 2009

O trânsito.

Tanta coisa pendente que desprende
suspensa que surpreende
nessa segunda dos exus e de obaluaiê,
das pombas que giram, de satanás,
das ciganas tupiniquins, padílhas, pilíntras...

O ofício santo dos ante heróis.

Cheguei em casa e o copo
de vidro quebrou em minha mão.

"Era para o santo" - entende-se.

O rio... 

Diabo das matas, das vinhas,
divino, das ovelhas cabras,
dos carneiros, das cobras,
das cobranças sociais.

A mulher, a noite, o canhoto...

Parte da causa da estigmatização
dos diAbos, dos diEgos, era o medo
que as pessoas condicionadas tinham
a uma ótica estreita de 'desconhecido'.

Mas o rio que flui bifurcado feito perna
aberta, veia da terra, caminha raro...

De longe, muito longe, saltou a voz
agradecida, uma gota d'água doce,
das glândulas salivares do organismotor.

Transitando...

Fui dormir e contei carneirinhos.
Passei numa ponte...
E as estrelas do céu...
E as casinhas na beira do rio,

Uma velha de branco...

Branco o olho e o negro da noite...
Era negra a senhora.

Trabalhava em rendas de bilros,
numa luz amarela...

Negro olho e o branco da noite,
branca a concha do mar,
e o espelho do rio
branca a luz do luar.

Eu passei numa ponte.

Sonhei que estava numa rua larga
e vazia, era a rua amélia, no bairro
das graças, aparecia um menino,
um menino desses de rua, cara
de bicho com raiva, com sono
e fome, cara de sol ardente...

Me virei numa gaivota grande.

As asas queriam conte-lo em abraço
de mãe, começei, gaviota...
Gaivota ou colhereiro?
comecei a desvirar e respirar bem
fundo, acordando mar bravo
dentro. E chorei abraçada.

A essa altura o menino chorava junto,
um respiro largo tomou conta de nós dois.
Era a paz.

Voou outra ave por cima da gente
em forma de sombra, no chão
o reflexo da ave veio na poça d'água
formada do chororô. 

Tinha aparecido uma tartaruga marinha
bem pequena, e a gente quis salvá-la juntos.


(Camaragibe-Recife-Barro Macaxeira-Várzea, dia dos exus e omolus, segunda-feira dia 31 de agosto de 2009)

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