domingo, julho 06, 2025

Sertões

Dia amanhece em sonho
Carro buzina lá em baixo
As galinhas
Passarins 
Moto

Dia chegando
Posso ouvir o bem-te-vi 
E um ou outro automóvel 

Penso no dia poeira
Nas tendas palestinas
O som das crianças 
pássarins 

Penso no carro pipa
Da minha infância 
No sertão

Da minha casa aos destroços 
O som da gente brincando
Na rede
Antes dos destroços

Enquanto as memórias persistem
Algo cintila
Solar

Agua viva no alumínio 
Dedo verde enraizando a terra
Gata, cachorro, cabra, galinha...

Mainha viva
sentada no chão
Pintando um banco
Contando memória 

Mainha céu que unia
Mundo de crianças 
afetos, sertões 


eclipses

Escrevo sem tinta
Sem alarde 
Mas ainda assim
A escrita fugaz das telas
Fica aqui, mas logo some
Nos mecanismos 
Digitais

Escrevo apagada
Como quem some
Entre escombros

Tento escrever sobre
Essas almas
Corpos que vejo nas telas
E aqueles que sequer vejo
Que somem com suas memórias
Na poeira

Uma criança que pergunta ao tio
"Meu pai inda está vivo?"
Ao vê-lo no chão amarelo
Ao tentar buscar comida
A falsa ajuda
que nada tem de humanitária 

Um cotidiano de cenas

A rima ao som entoado
Dos palestinos que cantam
Apesar dos sons de morte

Solares,
Trazendo eclipses
Nas luas de seus versos